É notório observar que algumas organizações não-governamentais profissionalizaram tanto seus departamentos de comunicação, que conseguem espaço na mídia sem tanto esforço, digamos assim - não estou aqui questionando o mérito do trabalho das ongs ambientalistas, muito positivo, aliás.
Caso da Fundação SOS Mata Atlântica, conhecida do público por levantar a bandeira em defesa do verde, especialmente o da faixa litorânea brasileira, a tal da "Mata Atlântica". Sua bandeira, agora, é a de um assunto que conecta dois temas ambientais da "moda" - água e consumo consciente, o segundo pauta constante na mídia graças ao trabalho de outra organização que foca fortemente na mídia, que é o Instituto Akatu.
Você faz xixi no banho? A SOS se uniu a uma grande agência de propaganda, a F/Nazca, e montou uma grande campanha de comunicação com o tema... acredite se quiser. A campanha Xixi no Banho está na boca do povo: ganhou mais de dois minutos no horário nobre da rede Globo, em pleno Jornal Nacional (confira a reportagem clicando aqui).
Volto a falar... não vou ficar aqui criticando a campanha, que tem lá seus méritos. Mas acho que é um bom motivo para fazer os educadores ambientais, e quem trabalha com comunicação voltada para a educação ambiental, em aproveitar algumas lições - não, não é a de passar a fazer xixi no banho. Mas lições de como aproveitar o melhor do universo da propaganda, que dialeticamente alguns educadores abominam - postura radical que não vai ajudar muito a melhorar a situação do planeta, acho.
Em resumo, o que a campanha tem de positivo para nós, educadores, planejarmos nossas ações:
1. Chamar a atenção para um tema aparentemente esdrúxulo pode trazer público. Repare nas reportagens, no site da campanha que o xixi no banho é uma desculpa para falar de economia de água e energia, ainda que de forma superficial. Nem sempre esse choque pode funcionar positivamente - vai depender de como as pessoas que criam esse tipo de campanha dialogam com o público por meio da linguagem publicitária. Mas criar, o nome já diz, é ousar e experimentar.
2. Temas difíceis ganham mais espaço quando falam a língua do povo. Tá certo que o site da campanha é uma ferramenta bem sofisticada, mas observe o item Dúvidas Frequentes: "fazer xixi no banho transmite alguma doença? É nojento?". Parece bobeira, mas vai me dizer que isso não passou pela sua cabeça... quando muitos educadores ambientais escrevem materiais sobre meio ambiente às vezes que quem vai ler o que escreveram pode não entender. Ou não associar aquele assunto ao seu cotidiano.
Insisto: não é apenas uma questão de adequar a linguagem, escrever mais fácil, mais simplificado... é antes, pensar realmente se o que você, educador, está produzindo, vai fazer a diferença para quem não é da mesma área que você. Está careca de saber que desmatamento está associado a mudanças climáticas? Já experimentou explicar isso pro seu vizinho, pro porteiro do prédio? Então experimente esse exercício.
3. Todas as mídias devem ser aproveitadas. Infelizmente a inclusão digital ainda não é uma realidade em todo o país, mas é inegável que muita gente usa Orkut, MSN, Twitter torpedo no celular e tudo que é ferramenta de rede social disponível na internet - e essa campanha está em tudo que é lugar da rede. Se funciona, se faz realmente efeito, ainda há pesquisadores debatendo o assunto. Se é saudável ou prejudicial, não cabe aqui discutir.
No meu entender (quase) tudo que se faz dentro de uma ética/ótica de melhorar o planeta é positivo. Educomunicação não é criticar a mídia, é (re) construir a mídia com viés educativo, de comunicar para contribuir à formação do ser humano. Então, vamos aproveitar esse universo midiático tão favorável desse século 21 e formar realmente redes, não utilizar Orkut, MSN e etc só para ganhar audiência, mas realmente formando alianças, afinidades e campanhas que saiam do virtual para ganhar as ruas.
E por fim...
Depois de uma campanha com um tema tão digamos, esquisitinho como esse, campanhas sobre temas nem tão populares também poderão ter espaço na mídia.
É claro que, para ganhar espaço na mídia de massa, como é o Jornal Nacional, depende de uma equipe de assessoria de comunicação que tenha abertura junto aos jornalistas, coisa que nem toda ong ou pequena associação tem.
Mas se planejando e insistindo (porque os veículos de comunicação estão aí tambpem para prestar serviço a sociedade, e podemos, sim, cobrar postura dessa turma) é possível emplacar coisas que sonhamos, como fazer as pessoas realmente entenderem o que é uma APA - Área de Proteção Permanente, por exemplo. Ou contribuindo para que as queimadas urbanas - crime ambiental e prática proibida por lei federal - agravem as condições do ar que respiramos nas cidades grandes.
É incrível como tem assunto que poderia e deveria virar tema de campanha para que as pessoas se apropriem das informações de forma a não só deixar o xixi para a hora do banho... tem coisa tão ou mais importante acontecendo que às vezes fica perdido num telejornal ou numa revista.
Não esquecendo, como sempre, as mídias alternativas, blogs, rádios comunitárias, jornais-murais nas escolas, boletins de sindicados e associações, pequenos jornais semanais de um único dono que reinam por cada pequena cidade desse país. É um trabalho insistente, de formiguinha, que também entra na luta pelo poder que é a questão da comunicação.
E acredite. Se xixi no banho sai no Jornal Nacional, a gente tem muita coisa boa pra mostrar sobre educação ambiental por aí!
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