Pular para o conteúdo principal

Índios - e negros, japoneses, brancos, brasileiros

Enquanto houver data marcada no calendário para realizar manifestações, passeatas e botas a boca no trombone enquanto se passa o resto do ano escondido e calado,

Enquanto se apresentar danças e cocares numa escola pra ganhar uns trocados,

Enquanto tiverem vergonha de usar sua indumentária como símbolo de sua cultura,

Enquanto se negar o direito a lutar pela terra,

Enquanto se tratar os indígenas (e outras minorias) como criminosos, enquanto se detona a mata, os rios e os mares com todas as devidas licenças e autorizações que permitem a destruição debaixo dos nossos pés (e ainda por cima fazendo propaganda de página inteira de empresas que fazem coisas do gênero nos jornais),

Enquanto não se ver cenas como a da foto, de um índio curtindo um jornalzinho escrito pelos Sem-Terra, por exemplo, ouvindo a voz de alguém que nem sempre tem voz se expondo,
Enquanto as universidades produzirem conhecimento sobre os índios e esse conhecimento ficar restrito aos alunos da universidade (e olhe lá),

Enquanto índios, negros, japoneses, brancos, caiçaras, pescadores, pobres, analfabetos, gente comum e trabalhadora não tiver acesso a informação adequada sobre o que pode fazer pra melhorar sua vida, melhorar o planeta,

Mas também enquanto houver índios, negros, japoneses, brancos, caiçaras, pescadores, pobres negando as suas origens e ainda por cima agindo com desonestidade para tirar vantagem da situação de forma pejorativa, detonando a imagem dos movimentos positivos,

... nós vamos ter que continuar aguentando o Dia do Índio sendo comemorado de uma forma realmente torta nas escolas, inserindo nas crianças a dúvida de que temos a cultura e a questão indígena intrínseco as nossas origens, da mesma forma que nem sempre se mostra que o leite vem da vaca, que a energia vem do petróleo e custa caro.

... nós também vamos continuar aguentando a mesma ladainha de sempre, de que índio é preguiçoso, baderneiro e que não direito a nada, porque segundo a voz corrente não temos mais índios, só uma gentalha que se traveste em datas comemorativas pra ganhar uns trocados, vender artesanato, meter a mão em benefícios e encher o saco.

... e por fim, seremos sempre uns brasileiros toscos, que não acreditam nos direitos das minorias, que por isso mesmo deixa de ter esperança que dá pra mudar, dá pra lutar. E, principalmente, dá pra se reconhecer dentro do tão diverso planeta Brasil que dividimos. Uns com os outros.

E se alguém reclamar sobre esse texto, um aviso: viva o Índio nesse dia 19, e viva a liberdade de expressão que a internet (ainda) permite! Faça a sua parte e abra a boca também!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Download: atlas de bacia hidrográfica

O Instituto de Educação e Pesquisa Ambiental 5 Elementos , de São Paulo, "especializou-se" na publicação de materiais paradidáticos que podem ser utilizados na educação ambiental, tanto na escola quanto fora dela. São materiais feitos por e para educadores, diferente do que acontece com algumas editoras brasileiras - que nem sempre contratam pessoas com real vivência nessa área. Seu lançamento mais recente é o Atlas Socioambiental - Um Retrato da Bacia Hidrográfica dos Rios Sorocaba e Médio Tietê . Tive a oportunidade de participar da produção, editando textos dessa ferramenta que une mapas e uma leitura dos mesmos para entender a gestão e a conservação dos recursos hídricos. A publicação está disponível para download no site da 5 Elementos, junto a outros materiais produzidos pelo Instituto que, inclusive, estão com tiragem esgotada. É o caso do manual Lixo e Reciclagem , que traz temas como a história da relação do homem com seus resíduos, a classificação, coleta, transpor

Parábola da escola animal

Texto inteligente do filósofo Osho, publicado no blog Palavras de Osho . É para se pensar... "Um amigo me enviou esta linda história. Eu gostaria que você a conhecesse; ela pode ajudar. A história se intitula "A Escola Animal". Um dia os animais se reuniram na floresta e decidiram criar uma escola.Havia um coelho, um pássaro, um esquilo, um peixe e uma enguia, e eles formaram uma Diretoria. O coelho insistiu na inclusão da corrida no currículo. O pássaro insistiu na inclusão do voo no currículo. O peixe insistiu na inclusão da natação no currículo. E o esquilo disse que a subida perpendicular em árvores era absolutamente necessária ao currículo. Eles juntaram todas essas coisas e escreveram um roteiro do currículo. Então insistiram em que todos os animais aprendessem todas as matérias. O coelho, embora tirasse um "A" em corrida, teve uma enorme dificuldade em subida perpendicular em árvores. Ele sempre caía de costas. Logo ele teve um tipo de d

Comunicação 2.0: conversa e prática

Em um universo onde as redes sociais virtuais ganham cada vez mais espaço - o que nem sempre é sinônimo de diálogo e compartilhamento reais - a comunicação precisa ser pensada de maneira diferente nas organizações e coletivos que trabalham, principalmente, a mobilização social. Esse foi o mote do evento Comunicação 2.0: conversa e prática, realizado no dia 1 de março de 2018 no Impact Hub, em Manaus (AM), sede atual da Educom Verde Comunicação e Educação Ambiental. Porque 2.0? Uma brincadeira com referência a uma "versão" atualizada do que precisa ser a comunicação nas relações de hoje. Mais do que se preocupar com ferramentas, é preciso refletir sobre como nos comunicamos com os públicos que precisamos, sejam eles alunos de um professor, ou beneficiários do projeto de uma organização. A oficina abordou o campo da Educomunicação como proposta metodológica para o aprendizado por meio das relações de comunicação, seja como ferramenta, seja como processo. É pensar se