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Internet: muito mais do que e-mail e blogs... e daí?

Peguei o feriado para conhecer melhor as ferramentas de comunicação da internet. Sim, é um universo repleto de coisas, mas como usá-los? Como não ser mais um modismo, mais uma coisa pra administrar e fazer-nos esquecer o sol lá fora e ficarmos cada vez mais enfurnados no computador?

E mais: como dá pra fazer educação ambiental com esse universo de ferramentas?

Minha amiga Graça Lara começou essa provocação toda ao me recomendar o livro Google Marketing, de Conrado Adolpho Vaz. É voltado pra quem quer fazer marketing de relacionamento e ver sua marca dando certo, mas seus conselhos são valiosíssimos pros educadores - que relutam até em confiar em blogs como fontes de informação (estão na idade da pedra, aliás, e vão permanecer na academia e não atingir ninguém se continuarem com esse tipo de pensamento).

Os princípios que o autor aponta para uma empresa usar a internet como estratégia de propaganda também vale para quem quer fazer as pessoas entenderem que é preciso refletir sobre as questões ambientais, dentro de um panorama social com diversas realidades - de quebra, ancorados no Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis. Os princípios são os seguintes, com meu comentário em seguida:

- Ser simples não quer dizer medíocre ou mal-feito, mas sim, tão elaborado que só seja apresentado ao usuário o que realmente é imprescindível. A simplicidade pode ser mais complexa do que a própria complexidade. Para ser simples é preciso ser exato".

Nenhuma outra frase resume o paradigma da educação ambiental. Milhares de apostilas, sites, planos de aula e atividades são feitos para que as pessoas insiram-se no panorama da reflexão-ação-mobilização; esse é o objeto do desejo de todos os educadores ambientais. Mas para que facilitar, se podemos complicar?

Existe um medo muito grande de simplificar conceitos científicos, técnicos, e o resultado são materiais que não dialogam com seu "público-alvo", no caso, os educandos. Jornalistas repetem o erro e escrevem reportagens que muita gente não entende. Falta nível educacional para as pessoas entenderem o que os educadores ambientais estão querendo dizer? Que tal "descermos" um pouco o nível para que as pessoas nos entendam?

- Ser ético é mais do que dizer a verdade e ser transparente em todas as suas atitudes. Ser ético é revelar os segredos da sua instituição para o consumidor como uma forma de pedir a sua anuência. É destinar ao seu cliente tempo para explicar-lhe porque sua empresa está fazendo isto ou aquilo. Ser ético é devolver à sociedade aquilo que ela lhe deu em forma de lucros".

Nesse mundo atual de excessos de informação nem sempre temos acesso a material que realmente nos importa. é a situação mais comum no que diz respeito a educação ambiental. As campanhas elaboradas pelas empresas nos dizem "economize água, economize energia", mas muitas não abrem o que realmente estão fazendo para melhorar essa situação, ou nos fornecem pouquíssimas informações que não sejam confidenciais... o resultado é que sabemos o que NÃO podemos fazer, mas para o COMO FAZER não temos respostas adequadas...

Mais uma vez, cadê o papel dos educadores ambientais nessa história? Precisamos de mais projetos de difusão da informação ambiental, mediados por nós, educadores, mas com a mente aberta e preparada para conflitos e má vontade das próprias empresas patrocinadoras.

Mas temos que tentar... a ong 5 Elementos, por exemplo, criou o excelente projeto do site da sub-comitê de bacia Pinheiros-Pirapora, com produção coletiva de conteúdo. É uma tentativa de difundir, ao menos na internet, mais sobre as águas dessa região. O tema é espinhoso, inacessível a maioria das pessoas, mas a iniciativa é louvável.

Precisamos de mais sites como esse... de que adianta o blá-blá-blá de que é preciso ter coleta seletiva nos municípios se não temos sites realmente atualizados, que nos indiquem endereços e rotas de cooperativas pelos municípios, o que poder mesmo ou não reciclado, entre outros?

- É preciso criar relacionamentos para escutar avidamente o seu consumidor.

Educador ambiental, aí vai a pergunta: nos processos de EA nós realmente ouvimos o educando, suas expectativas, suas experiências?

Muitos acreditam que a educomunicação teria a resposta para isso. Já falei várias vezes sobre esse assunto no blog Educom Verde, e também acredito que é possível fazer com que a comunidade, se apropriando de meios de comunicação e produzindo jornais, blogs, programas de rádio e filmes, é uma forma também de inserir suas expectativas e aprender melhor. Comprovei um disso no projeto de educomunicação do Educom Caraguá, em Caraguatatuba (SP).

Mas ouvir o consumidor, no caso, o educando, é mais do que ajudá-lo a se apropriar dos meios. É acima de tudo respeitar suas crenças, desejos, cultura e dialogar com tudo isso... quando um educador ambiental não respeita a percepção de que seu aluno gosta de novela, por exemplo, e esse educador acha novela subcultura, e nem se interessa em saber porque esse gosto do aluno, como avançar num diálogo de igual para igual?

Educadores, não estou falando para que assistam novela; porém, é preciso ter esse cuidado nas relações, respeitando histórias de vida diferentes. Aí sim, dá pra avançar nas conversas.

- O consumidor de hoje recebe mais informações do que pode assimilar ou lembrar.

É óbvio? Nem tanto... e nesse mar de informações, como já foi citado nesse texto, nos perdemos, não encontramos o que queremos, ou, no caso da internet, encontramos na maioria das vezes o que não estávamos procurando, e dispersamos.

E na educação ambiental envolvendo a internet, o que temos? Milhares de informações que nem sempre satisfazem que a procurou... um exemplo: digitando a palavra desenvolvimento sustentável no buscador Google, chegamos à marca de um milhão, setecentos e cinquenta mil páginas.

O primeiro dos 10 endereços que aparecem na primeira página de pesquisa do buscador - normalmente, as que as pessoas mais visitam - traz a definição resgatada pela ong WWF: " é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Satisfez o seu desejo de entender o conceito? Pense por um instante: o vizinho do seu prédio, a sua empregada, o dono da padaria entenderiam o conceito de desenvolvimento sustentável lendo essa página da internet?

O exemplo de desenvolvimento sustentável é até satisfatório. Agora experimente digitar "para que serve uma bacia hidrográfica" no buscador Google. Devo lembrar que esse conjunto de palavras é comum ao glossário do educador ambiental, mas perguntei à minha mãe e a meus vizinhos se sabiam o que era isso... neca.

Apareceram 155 mil resultados - veja mais clicando aqui. Não, o primeiro não era de algum comitê de bacias, mas do banco de respostas do Yahoo. A resposta é enooooorme e provavelmente copiada de algum site, mas reproduzo aqui uma parte: "entende-se por bacia hidrográfica toda a área de captação natural da água da chuva que escoa superficialmente para um corpo de água ou seu contribuinte. Os limites da bacia hidrográfica são definidos pelo relevo, considerando-se como divisores de águas as áreas mais elevadas. O corpo de água principal, que dá o nome à bacia, recebe contribuição dos seus afluentes, sendo que cada um deles pode apresentar vários contribuintes menores, alimentados direta ou indiretamente por nascentes".

Fácil de entender, não? Parece texto de cartilha escolar. Chato, repleto de palavras que ninguém conhece. Ah, claro, o sujeito interessado vai procurar as palavras que não conhece no dicionário... mas será que o veículo internet não pode incluir definições mais claras?

Insisto: educadores, vamos pensar mais na comunicação não apenas como ferramenta pra fazer boletim ou site interno de projetos ou ongs, e vamos avançar nesse campo, que é de suma importância para que os objetivos da EA sejam plenamente atingidos?

Assim mesmo, grafado em negrito, para que não esqueçamos das funções primordiais da comunicação, que é favorecer os processos de educação ambiental. Mas isso passa também pela própria percepção do educador sobre seus processos comunicativos. O QUE é importante falar, escrever, postar na internet, mas o COMO precisa ser objeto de reflexão, sempre. Então, criando blogs, folhetos, cartilhas, boletins, sempre é necessário descobrir o que está achando aquele do outro lado - o leitor, o internauta.

Senão, corremos o risco de falarmos sozinhos.


Comentários

Diego Gazola disse…
Concordo com a abordagem do artigo. Enquanto meio ambiente for visto como sinônimo de mato e a população e midia confundir Amazonas(Estado e rio) e Amazônia(Floresta tropical) não avançaremos na EA básica.
Érica Sena disse…
Oi Débora...
Adorei seu blog tb!!!Acho muito legal essa troca de inforamção entre ecoblogueiros...novos amigos!!!
Vamos sim trocar informações!!!
Ah meu logo...foi pensado por mim, mas quem criou foi minha irmã...

Valeuuu!!!!
Escreva qdo quiser,
bj
ERICA SENA- PENSAR ECO

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