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Educação ambiental é um ato político. Feliz ou infelizmente

Você anda desacreditado que a política pode dar certo? Eu também andava, até conhecer a equipe do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA). Conheci pouco, mas o suficiente para perceber que eles estão escrevendo a história da educação ambiental no Brasil em sua instância mais difícil - mas necessária, que é a política...

E eles trabalham, viu? Conseguiram implantar mais de 400 salas verdes - que são espécies de "pontos de cultura sócioambiental", com bibliotecas, computadores e atividades direcionadas para a educação ambiental. Construíram 150 grupos denominados Coletivos Educadores, que reúnem instituições e pessoas em constante processo de formação na área. E alavancaram o uso da educomunicação com foco socioambiental - embora ainda não tenham divulgado o documento da Política de Educomunicação atualizado, fizeram muito em reconhecer a educomunicação também como política...

E ainda avançaram na máquina burocrática do governo, mesmo fazendo parte do governo. A biblioteca do site têm materiais preciosos para quem trabalha com educação ambiental - clique aqui para dar uma olhada - e driblaram o espaço cibernético da instituição MMA criando blogs coletivos. Vão testando metodologias e ferramentas, errando e acertando, e o mais importante, avançando.

Tudo isso não foi mera propaganda gratuita pro governo. Foi propaganda, sim, mas de uma equipe que está perdendo seu mentor, infelizmente, por questões políticas. Marcos Sorrentino, biólogo e doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP), está se desligando do departamento...
também o conheci pouco, mas o pouco que já me mostrou não só a preocupação política de ter visibilidade dentro do Ministério, mas a vontade de difundir a educação ambiental para além das aulas de biologia. Cabeça boa o cara tem. Não vou esquecer o dia em que ele falou dos desenhos animados da Pixar como bacanas para trabalhar educação ambiental para crianças... parece óbvio para quem tem a cabeça aberta, mas imagine quantos educadores torceriam o nariz pra uma prática envolvendo desenhos animados americanos, ainda por cima...

Sorte dos alunos do Programa de Pós-Graduação de Ciência Ambientai (Procam-USP), onde ele dá aulas. E sorte do novo diretor de educação ambiental do MMA, que vai encontrar um campo fértil de idéias e ações criativas, que o farão avançar muito mais - assim nós, educadores ambientais, esperamos!

Para homenagear seu trabalho, Marcos (alguns podem chamar de "puxar o saco", mas esse termo nem faz mais sentido agora), aí vai um poema da educadora ambiental Bel Dominguez, do Coletivo Educador Cescar, em São Carlos (SP), inspirado em outro poeta, Carlos Drummond de Andrade (leia: E agora, José?). E agora? Agora só resta esperar que a educação ambiental continue avançando...

E agora?
A EA que a gente vem praticando - e portanto existe - tem nome!
Feita - é verdade -
Também em nome de muitas Marias e Josés sem ou com frágil voz...
Educação Ambiental
Que faz fazer versos, amar e protestar
conquanto seja mais diversa, integrativa, práxica, dialógica, propositiva, emancipatória...
Respeitosa - ao contrário de tanta pretensão
que tem zombado da maioria das mulheres e dos homens.


Educação Ambiental
como uma chave
Que abre portas
E libera a energia presa
desses Marias e Josés sufocados
Fazendo com que a Utopia
possa um dia vir a Ser
Porque alimenta a marcha
Que faz a arte acontecer
Para a celebração
E a continuidade da Vida.

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