Pular para o conteúdo principal

Educação Ambiental e Comunicação em UCs: tema de dissertação


No dia 21 de agosto de 2015, finalmente apresentei minha dissertação de mestrado "Comunicação e Mobilização na Gestão Participativa de Unidades de Conservação: o Caso da APA da Serra da Mantiqueira", junto ao Laboratório de Jornalismo Avançado da Universidade Estadual de Campinas (Labjor-Unicamp). Tendo o professor Ismar Soares, do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE-USP) em minha banca, fiquei bastante feliz com suas palavras indicando que "a Educomunicação passa a contar, a partir desta pesquisa, com um importante suporte bibliográfico para entender a área da gestão comunicativa".

A pesquisa foi orientada pela professora Maria das Graças Conde Caldas, jornalista das antigas que também se debruça sobre a relação entre os campos da Educação e da Comunicação. Inquieta com minhas práticas profissionais de Educomunicação, onde muitas vezes vi essa área resumir-se a metodologias e ferramentas midiáticas de suporte para cursos de Educação Ambiental, decidi analisar como se dá o processo de comunicação entre diferentes atores sociais (Estado, ONGs, comunidades) que fazem parte da chamada gestão participativa de Unidades de Conservação. Acompanhei as reuniões do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Mantiqueira, um território de 30 municípios entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Embora tenha incluído a pesquisa sobre utilização de ferramentas de comunicação, investi mesmo em entender como ocorre a comunicação entre os atores envolvidos. Especialmente tendo instâncias formais de participação e controle social como um Conselho, e tendo ainda o Estado (representado, no caso, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como mediador desse processo de comunicação.

Acreditava, no início da pesquisa, que minha investigação não tinha a ver com Educomunicação. Ao final, porém. concluo que a perspetiva da Educomunicação pode contribuir para ampliar a capacidade comunicativa, a horizontalidade do processo, e entender a Comunicação como oportunidade de aprendizado. Dando um peso, grande, aos facilitadores deste processo (no caso, gestores públicos), que precisam entender que comunicação não é só ferramenta para convencimento ou marketing, e que educação ambiental não é somente curso, palestra, visita a uma área protegida.

A Educomunicação amplia o olhar sobre os campos da Educação e da Comunicação ao propôr uma interface mais elaborada, que passa inclusive pela gestão em rede do processo de Comunicação entre atores envolvidos, por exemplo, na gestão participativa. Entre outros, a decisão do que comunicar, como comunicar e favorecer processos de Educação Ambiental, por exemplo, pode e deve envolver tanto atores que participam diretamente da gestão de uma Unidade de Conservação (UC), como é o caso dos conselheiros, quanto os indiretamente participantes (caso de comunidades afetadas pela UC).

Não sendo isso possível, minimamente é preciso entender o que significa comunicar no contexto da Educação Ambiental, no caso, das áreas protegidas. Se é preciso mobilizar as pessoas que influenciam e são influenciadas pela gestão de uma APA, por exemplo, para que entendam os objetivos da APA, é preciso levar em conta o referencial do principal teórico que utilizei para este trabalho (Toro & Werneck: Mobilização Social, Um Modo de Construir a Democracia e a Participação, 1996) que afirmam ser a mobilização uma convocação de "vontades, para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados".

Partilhar significados em torno da conservação ambiental é um desafio. Não só pela complexidade do tema e pela linguagem naturalmente complexa a ela referida; mas pelos diferentes entendimentos que as pessoas têm, a partir de sua cultura e das relações de poder e interesse de que fazem parte e, é claro, do acesso a informação compartilhada sobre os temas, de maneira que possa incluir essas pessoas na questão da conservação.

Espero escrever artigos sobre o tema da pesquisa e divulgá-la em breve. Por enquanto, a quem se interessa sobre a abordagem da comunicação como mobilização, sugiro a leitura de Toro & Werneck - clique aqui para baixar o arquivo. Para entender o contexto da interface entre Educação Ambiental e Comunicação, e ainda as possibilidades da Educomunicação para as Unidades de Conservação, leia artigo que escrevi sobre o tema na revista do ICMBio - clique aqui para acessar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Experiência na escola: música para ensinar

Encontrei esta semana uma das formas verdadeiramente sutis e poéticas de ensinar conteúdos em sala de aula, associando o aprendizado de história à reflexão sobre o meio ambiente. Apaixonada por MPB, a professora Marli Oliveira de Carvalho utiliza músicas em suas aulas de histórias junto a alunos de quinta a oitava séries da Escola Municipal Tenente José Maria Pinto Duarte, na zona Oeste de São Paulo. Primeiro, a professora trabalha o conteúdo de cada ano junto dos livros. Depois é que entram as músicas, que ela seleciona de acordo com o tema que deseja chamar a atenção. Não há necessidade de ser extremamente objetivo; a idéia é que as crianças associem algo da música ao que aprenderam anteriormente nos livros. O importante é que a canção dê um significado extra ao aprendizado. E de quebra, as crianças ainda têm acesso a nossa riqueza cultural presente na MPB. Marli pensa muitos anos-luz a frente e não se contenta em apenas fazer associações entre o aprendizado básico de história. Quer ...

Será que o brasileiro não sabe onde fica o Brasil?

Saiu na revista Veja há duas semanas, mas só agora consegui digerir a reportagem E a Gente Ainda Goza dos Americanos – que não deixo link, porque a revista só abre o conteúdo para seus leitores. E não sei se fiquei mais indignada com as informações da matéria ou se com o repórter que a escreveu, pixando (mais uma vez) o esforço de educadores em melhorar o nível de conhecimento de nossos alunos. A matéria baseou-se em uma publicação da multinacional Ipsos , um dos tantos institutos especializados em pesquisas sobre os mais diversos temas. Mil pessoas foram abordadas em setenta municípios das nove regiões metropolitanas brasileiras, e a abordagem consistia em abrir um mapa-mundi na frente desses entrevistados com perguntas do tipo “você sabe onde fica o Brasil? A África? Os EUA?”. A conclusão da pesquisa (transcrita da matéria, desse jeito mesmo): “50% dos brasileiros não sabem localizar o país no mapa”. E entre tantas abobrinhas que os entrevistados apontaram, não sabem onde fica o no...

Educação ambiental em Nova Escola

Qual o papel da educação ambiental na educação formal? O que professores de escolas públicas estão fazendo para formar cidadãos conscientes, introduzir a metodologia do conhecimento científico e estimular tanto alunos, quanto educadores, para a reflexão e o respeito à humanidade e o planeta? Essas foram algumas das perguntas que propus para a produção da reportagem Em Defesa do Planeta , capa da revista Nova Escola de maio, que está disponível on line (clique no título desse post para ler). Não foi fácil. Primeiro, os especialistas entrevistados (e a literatura disponível) falaram muito nos erros que as escolas cometem. Falta conhecimento, transdisciplinaridade, projetos duráveis, envolvimento da comunidade... e aí, como fazer para superar esses problemas? A resposta não estava nos livros, mas em cinco experiências que encontrei pelo Brasil - São Paulo, Balneário Camboriú (SC), Benevides (PA), São Sebastião (SP) e Salvador (BA). Em comum, a garra de professores e diretores que buscar...