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Estudo mostra que pichação aumenta lixo e furto na rua

Voltei de Paraty domingo passado preocupada com o estado da cidade histórica do litoral Sul fluminense. É o meu destino de férias (e quem sabe de trabalho) preferido, mas dói ver o estado de conservação e de desrespeito do poder público local, dos turistas... muito lixo, sujeira, pichações na parte fora do centro histórico (ainda bem, ufa!) deixam qualquer um revoltado.

Para quem se preocupa em conectar meio ambiente com qualidade de vida, é fácil refletir sobre como o estado de uma cidade interfere no "estado de espírito" dos cidadãos que nela vivem... Paraty sofre um pouco, mas com certeza municípios maiores sofrem muito mais. Besteira? Não para pesquisadores holandeses, que publicaram na revista Science o resultado de uma análise que fizeram em seu país. Eles mostram que o excesso de pichações em um local pode dobrar o número de pessoas que o sujam e aumentar a violência.

Leiam a reportagem que saiu a respeito no jornal O Estado de São Paulo no dia 21. Vale a pena imprimir e levar para a sala de aula, a reunião de associação de bairro... e questionar que cidade queremos para nós!

"Lá se vão pelo menos cinco vezes que a angiologista e cirurgiã vascular Renata Santana mandou pintar a fachada de seu consultório na Rua Teodoro Sampaio, zona oeste de São Paulo. Em quase dois anos e meio, a conta chega a R$ 9 mil, entre tinta verde-claro e mão-de-obra. E, ainda assim, as letras retas e pontiagudas dos pichadores continuam marcadas na parede, com símbolos de gangues e frases indecifráveis. "O prejuízo é muito maior do que o preço do pintor, porque a pichação faz com que os pacientes tenham medo de entrar no consultório", diz Renata. "Fica uma sensação ruim andar por um lugar todo pichado, é uma violência, quase um tapa na cara."

A sensação da médica não é apenas uma simples impressão. Uma pesquisa inédita feita por três pesquisadores holandeses mostra que a marca de pichações em um local pode dobrar o número de pessoas dispostas a jogar lixo no chão e até a roubar. "Certamente as violações aumentam em uma rua pela simples presença de pichação", diz Kees Keizer, responsável pela pesquisa que sai hoje na revista Science, de responsabilidade da Sociedade Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) e uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo. "É uma clara mensagem aos gestores públicos que prevenir a desordem é a melhor maneira de impedir a disseminação da violência."

Os pesquisadores montaram duas situações distintas no centro da cidade de Groninga, norte da Holanda. Na primeira, colocaram folhetos de "Feliz ano-novo" em bicicletas que estavam em um beco sem pichações. O mesmo número de folhetos foi colocado em bicicletas que estavam estacionadas em um beco parecido, mas repleto de marcas na parede. Resultado: 33% das pessoas jogaram o tal papel no chão no beco limpo, enquanto 69% sujaram o chão do beco que estava grafitado. Na segunda situação, os pesquisadores colocaram um envelope na entrada de uma caixa de correio, no qual era possível ver uma nota de 5. Primeiramente, a caixa estava limpa, sem grafite, e 13% das pessoas que passaram por ali furtaram o envelope. Repetida a experiência, mas agora com a caixa postal cheia de pichações, o número de furtos subiu para 27%.

Janela quebrada - A pesquisa de Kees Keizer toma por base a teoria desenvolvida por George Kelling e James Wilson em 1982 e denominada Broken Windows (Janelas Quebradas). Os dois ensaístas entendiam que era imprescindível eliminar a desordem para conseguir reduzir a criminalidade. Exemplificavam: "Se você ignorar a janela quebrada de um prédio, outras janelas também serão quebradas. A área vai passar a ter uma imagem de abandono e a delinqüência penetrará na sua casa."

Em Nova York, a teoria deu origem à política da "tolerância zero", na qual nenhum crime seria pequeno demais para a polícia. A idéia da janela quebrada também se mostra importante na cidade de São Paulo, onde o caso de um grupo de jovens que pichou a Bienal reacendeu a discussão sobre se a pichação é arte ou vandalismo - ao lado dos motoboys, os pichadores podem ser classificados como um fenômeno genuinamente paulistano, com seus críticos e defensores igualmente ferrenhos.

Em 2006, a Prefeitura da capital aprovou uma lei que permite que o governo limpe e pinte muros e fachadas de imóveis particulares descaracterizados pela sujeira. Foram 6,7 milhões de metros quadrados pintados até agora - só neste ano já foram gastos R$ 3 milhões neste programa. "A teoria da janela quebrada vale para qualquer cidade, inclusive São Paulo", diz Claudio Beato, pesquisador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

"Se você vai a uma rua degradada, cheia de bitucas de cigarro, pichações, lixo, é claro que vai ter mais crime. Não quer dizer que a pichação incite a violência e a degradação. Mas tanto a pichação quanto a violência e a degradação são expressões de um mesmo fenômeno, que é a ausência de controle."

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