
Fuçando em coisas antigas achei um dos textos que escrevi para o site Uma Coisa e Outra, do tempo que viajava pra caramba e já pensava no olhar diferenciado que hoje trabalho nas oficinas. Viajar é a melhor coisa pra expandir a alma, é um mestrado da vida...
O ver e o olhar do viajante
"Assim, o paradoxo: quanto mais fácil se torna viajar externamente, nas asas dos jatos supersônicos e via internet, mais difícil se torna viajar sabiamente. Ficamos com muitos quilômetros voados e diferentes carimbos no passaporte, mas cresce em nós a suspeita de que nossas viagens perderam alguma coisa fundamental. T. S. Eliot perguntava, sobre os tempos modernos: onde está a sabedoria que perdemos com os conhecimentos? Onde estão os conhecimentos que perdemos com as informações?"
"Assim, o paradoxo: quanto mais fácil se torna viajar externamente, nas asas dos jatos supersônicos e via internet, mais difícil se torna viajar sabiamente. Ficamos com muitos quilômetros voados e diferentes carimbos no passaporte, mas cresce em nós a suspeita de que nossas viagens perderam alguma coisa fundamental. T. S. Eliot perguntava, sobre os tempos modernos: onde está a sabedoria que perdemos com os conhecimentos? Onde estão os conhecimentos que perdemos com as informações?"
(Phil Cosineau, em A Arte da Peregrinação)
Com um pouco de dinheiro, algum conhecimento e coragem, hoje qualquer um pode viajar. Quase não há canto desse mundo que já não tenha sido descoberto por turistas. E está cada vez mais difícil, até mesmo para os aventureiros natos, orgulharem-se de terem sidos os primeiros a colocarem os pés "naquele" lugar, "naquela" praia, "naquele" lugarejo.
Com um pouco de dinheiro, algum conhecimento e coragem, hoje qualquer um pode viajar. Quase não há canto desse mundo que já não tenha sido descoberto por turistas. E está cada vez mais difícil, até mesmo para os aventureiros natos, orgulharem-se de terem sidos os primeiros a colocarem os pés "naquele" lugar, "naquela" praia, "naquele" lugarejo.
Quando estive no Chile, bem lá embaixo, no final da América do Sul, contei à dona de um café em Punta Arenas que iria a Porvenir. Trata-se de uma cidadezinha de, no máximo, cinco mil habitantes, na Ilha da Terra do Fogo. "Todo mundo vai a Ushuaia, no lado argentino da ilha. Eu vou para um lugar que, acredito, ninguém vai", contei a ela, que me sorriu com ironia."Não tem nada em Porvenir", disse a chilena. "E, no entanto, alguns turistas crendo que vão fazer algo diferente dos outros acabam indo pra lá e se decepcionam".
Mas fui, não me decepcionei e, embora tenha mesmo encontrado alguns gringos que não acharam a menor graça naquela cidadezinha, tive uma das experiências pessoais mais interessantes da minha vida.Em Porvenir, fui a um festival de música nativa, onde os ritmos, vozes e instrumentos me lembraram muito a música dos gaúchos brasileiros. Zanzei pelas ruas desertas, brinquei com cachorros perdidos por essas ruas, assisti a uma corrida dos moradores locais, com direito a uma parada militar.
O que poderia parecer perda de tempo para a dona do café e para os turistas em geral, revelou-se, pra mim, um momento de "ver" outro mundo com o meu "olhar" brasileiro. E é aí que uma viagem revela o seu verdadeiro objetivo.
Quando abrimos o nosso coração para tudo o que existe em um mundo diferente do que você vem, percebemos que Porvenir, aquela outra cidadezinha aparentemente sem graça do Nepal, do Alasca ou até mesmo do interior do Ceará tem sempre algo mais. Pode ser alguma coisa em comum com a cidade que você veio. Ou um fato muito diferente do que você está acostumado.
Para enxergar essas semelhanças e diferenças, é preciso os tais "olhos de ver". É parar com esse espírito desbravador e ansioso e passar para o verdadeiro lance: descobrir o mundo de um jeito mais relaxado, menos preocupado com novidades que você vai ser o primeiro a descobrir.
E ficar mais ligado no que pode ser comum, mas que dá personalidade ao lugar.
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