
A matéria baseou-se em uma publicação da multinacional Ipsos, um dos tantos institutos especializados em pesquisas sobre os mais diversos temas. Mil pessoas foram abordadas em setenta municípios das nove regiões metropolitanas brasileiras, e a abordagem consistia em abrir um mapa-mundi na frente desses entrevistados com perguntas do tipo “você sabe onde fica o Brasil? A África? Os EUA?”.
A conclusão da pesquisa (transcrita da matéria, desse jeito mesmo): “50% dos brasileiros não sabem localizar o país no mapa”. E entre tantas abobrinhas que os entrevistados apontaram, não sabem onde fica o nosso vizinho mais famoso, a Argentina (84%). Ou onde ficam os Estados Unidos (18%).
Não tenho nada contra pesquisas, acho louvável o esforço do instituto. Mas uma reportagem se basear em um universo aleatório de apenas mil pessoas para massacrar o esforço de muitos professores com a frase no final da matéria: “a péssima qualidade dos professores está na base dessa vergonha, agravada pela falta de mapas nas escolas. Acrescente-se a falta de instrução familiar e pronto: está formado o ambiente propício para criar gerações de brasileiros que exibem uma ignorância que não está no mapa”.
Não acho que as coisas são bem assim; temos um sistema de ensino ruim e uma pobreza de espírito, além da pobreza material, que infelizmente impede as pessoas a terem acesso pleno a educação e tudo o que ela oferece de bom, que é o compartilhar conhecimento para entender melhor o mundo – e daí, mudá-lo. Mas aí a promover essa metralhadora verbal e atingir educadores que estão na luta, usando mapas para dar suas aulas, promovendo pesquisas no Google Earth e fazendo a diferença... aí é dureza, não?
Isso sim é uma vergonha. É nessas horas que eu tenho vergonha de dizer que sou jornalista, pois o que alguns colegas fazem é simplesmente criticar e jogar terra em cima dos sonhos e conquistas das pessoas.
Prefiro acreditar, sim, nos educadores que fazem a diferença. E cujo trabalho, infelizmente, não apareceu nessa pesquisa. Acredito também no jornalismo diferenciado e esforçado, na qual coloco a Nova Escola (da mesma editora de Veja, mas com um linha de trabalho totalmente diferente), que tenta trabalhar a favor dos educadores. E não contra.
Comentários
Concordo com você. Este tipo de pesquisa em nada acrescenta à população, menos ainda à luta dos educadores por uma educação de qualiade e valorização do profissional. Vergonha uma revista que promove sua utilização no meio educacional tratar de forma tão equivocada informação e conteúdo instrucional.
Concordo com vc, pois sou pedagoga ambientalista e sei da luta de milhares de professoras e professores para dar aula. Já atuei no nordeste /caatinga fazendo coordenação pedagógica para as professoras de escolas rurais e qtas vezes desenhavamos o mapa do Brasil na parede, junto com os alunos. Que tal se a revista nova escola chegasse as mãos do jornalista que escreveu a matéria e chegasse tb ao instituto que fez a pesquisa.
beijos bom trabalho à nós ...
Cláudia
Se tem uma revista que quando me atrevo a ler já abro desconfiada é esta Veja... Parabens, mais uma vez pelo post!
bjs
Gostei do post. Ainda não consegui ter uma opinião do assunto. Mas desde já concordo que o jornalismo está cada dia mais preguiçoso na hora da apuração e da reflexão sobre os assuntos abordados...
o jornalista antes de tudo deveria pensar com mais ética e não só em busca da espetacularização da noticia, como vem acontecendo em todos os veiculos de comunicação. Aliás, nossa vida virou um grande espetáculo. Só vale a pena aquilo que é sensacional e não o que é sério. Bjs Izabel Leão