Também há oficinas para adultos e crianças, onde você pode aprender a fazer brinquedos de sucata e terrários para a varanda da sua casa (a programação está no site http://planetasustentavel.abril.com.br/planetanoparque, que tem um mapa do circuito. Clique no ícone Oficina para ver a programação). Corra, que tudo termina dia 14 (domingo).
A idéia até que é boa. Em cada estande, monitores (estudantes de turismo da Universidade Anhembi-Morumbi, na maioria) explicam aos visitantes como é possível diminuir os impactos negativos do homem sobre o planeta – e como fazer a sua parte para melhorá-lo. E quem percorre todos os estandes pode carimbar um passaporte que dá direito a uma sacola de tecido, para substituir as difamadas sacolinhas plástica do supermercado. Também ganha um livro com dicas de como economizar energia.
É melhor fazer o circuito de bike, pois o parque é grande e os estandes estão ao longo da ciclovia pintada de vermelho. Quem não tem uma, pode alugar no portão 3, que fica próximo ao Detran, onde há um ponto de ônibus. Há outro quiosque de aluguel de bicicletas dentro do próprio Ibira, entre os portões 2 e 3, próximo ao Museu Afro-Brasil. O aluguel custa R$ 5 a hora – parando em cada estande, e ainda participando de uma oficina, a média do passeio é de três horas.
Visitei o circuito do evento na tarde ensolarada de terça (9) e pesquei algumas idéias sustentáveis para o nosso dia-a-dia. Acompanhe:
Respeito pelo ambiente – e pelo diferente
Tateando sementes e objetos em caixas, com uma venda nos olhos, a estudante Paula Oliva Campos, 15 anos, experimentou a sensação de não se enxergar. Uma vivência para “quebrar o gelo” dos visitantes, no estande Inclusão Social, que ainda tem exposição de fotografias dos atletas que participaram do Para-Pan este ano.
E o que tem a ver um estande voltado para a inclusão, dentro de um evento com o tema sustentabilidade? “O respeito às diferenças entre as pessoas é tão importante quanto o respeito ao meio ambiente para uma vida coletiva melhor no planeta”, avisa Ucha Ferraz, coordenadora de saúde e qualidade de vida da I-Social (http://www.isocial.com.br/), empresa responsável pelo estande, que também está recebendo currículos de pessoas com deficiência.
O que eu posso fazer como indivíduo: respeito e inclusão – sempre! Tanto na escola, onde crianças portadoras nem sempre são envolvidas nas brincadeiras, por exemplo, quanto na empresa. “Acima de tudo, é preciso tratar o portador de deficiência como você trata normalmente os outros colegas”, completa Ucha.
Construção Sustentável
Entrei no estande achando que iria encontrar um arquiteto ou especialista para conversar, já que a responsabilidade no evento é do escritório de Ricardo Caruana. Não encontrei ninguém além das gentis monitoras, que com muito boa vontade apresentam um equipamento de produção de energia solar e outro de reaproveitamento de água.
Elas ainda mostram porque é importante usar madeira na construção, numa explicação técnica que também está no folheto do evento: “utilizar madeira na estrutura da casa significa fixar carbono, um elemento químico presente na madeira que, quando disperso na atmosfera em forma de gás, contribui para o agravamento do aquecimento global”. Entenderam, na prática?
Mas me decepcionei com o estande. Esperava trocar idéias para saber o que eu, como indivíduo sem grana, que mora em um quitinete no Centro, posso fazer pra diminuir os impactos ambientais da minha moradia.
O que eu posso fazer como indivíduo: quem me uma resposta foi a monitora e estudante de turismo Vera Petrich, 20 anos. “Trocar lâmpadas e diminuir o consumo de água já faz diferença”, opina. Ela ainda reflete: as pessoas são preocupadas com a economia, e não com os impactos ao ambiente. Mas já é um caminho, pensa Vera.
Também acho...
Tratamento de Resíduos
Se você der certo, vai encontrar no estande o Paulo Rogério dos Santos. Ele é diretor da Pueras (http://www.pueras.org.br/), que trabalha o tema lixo na capital paulista. A ong dá consultoria a cooperativas de coleta seletiva, promove palestra e gerencia a coleta em locais como o parque Playcenter.
“Lixo, não. Resíduos”, avisa Rogério, que está no Ibirapuera para esclarecer aos visitantes sobre a desorganizada gestão da coleta seletiva em São Paulo. Apenas 0,9% das mais de 200 mil toneladas mensais de lixo da capital são reciclados.
Há conflitos de interesse entre cooperativas, catadores individuais, prefeitura e empresas contratadas que fazem a coleta. E o consumidor fica perdido nesse tiroteio. É difícil encontrar informações realmente úteis na internet, por exemplo, e eu até hoje não sabia se incluía o isopor no meu lixo separado.
Rogério esclarece: sim, inclua o isopor. Nem todas as cooperativas se interessam por esse material por questões financeiras, pois nem sempre compensa a venda ou, pior ainda, as empresas que produzem isopor, lâmpadas, e outros objetos, não têm ainda um serviço organizado para dar finalidade a esses materiais. Ainda engatinhamos, e muito, nessa tão falada reciclagem.
O que eu posso fazer como indivíduo: tenha paciência, e não desista de enviar seus resíduos para a reciclagem! Se não conseguir descobrir como fazer isso através da Prefeitura (que teoricamente dá informações pelo 156), vá diretamente atrás das cooperativas. Solicite ao Rogério os contatos: rogerio@pueras.org.br. E lembre-se sempre de mandar resíduos lavados. A separação inicial dos materiais é sempre manual, e ninguém merece receber latinhas e plásticos repletos de restos de comida...
Mobilização e Participação Social
Ser voluntário é um forma positiva de ajudar o planeta – e a si mesmo. Já fiz – e faço – vários trabalhos como voluntária, e posso dizer que é uma delícia atuar numa causa em que você acredita, e de quebra ganhar uma experiêncial que nem sempre vai conseguir dentro da sua vida profissional. Mas como é que se começa?
Quem cuida do estande sobre o tema é o Centro de Voluntariado (http://www.voluntariado.org.br/), que orienta e encaminha voluntários a cerca de 700 instituições em São Paulo. A ong tem uma palestra sobre o tema, e dá orientações sobre como ser um bom voluntário – e você pode agendá-la, gratuitamente, pelo telefone (11) 3284-7171. Algumas dicas abaixo são do Centro.
O que eu posso fazer como indivíduo: tomou a decisão de ser voluntário? Parabéns. Lembre-se apenas de alguns tópicos importantes: encare o trabalho voluntário como um trabalho, onde você pode não receber um salário, mas terá responsabilidade e pessoas na coordenação. Organize-se, escolha uma ong próximo a sua casa, e estabeleça o número de horas que você pode dedicar semanalmente.
Consumo Consciente
A Akatu (http://www.akatu.org.br/) é uma das principais instituições do país que batalham pela divulgação de informações sobre a questão do consumo. Seus especialistas esmeram-se na produção de estatísticas que realmente assustam.
Um exemplo? Eles calcularam que uma pessoa gasta de 129 a 250 litros de água por dia. Ou que, fechando a torneira na hora de escovar os dentes, pode-se economizar 11 mil litros de água – por ano.
Senti falta de alguém da organização no estande, auto-explicativo, com placas cujo excesso de texto desanima os mais preguiçosos – e as crianças também, que não alcançam eses painéis por causa da altura. Mas a monitora Thaís Simões, estudante de turismo de 18 anos, pede aos visitantes que invistam seu tempo na leitura.
“Quem pára para ler fica impressionado com os números. Eu mesma mudei muitas atitudes depois de ter acesso a essas informações”, lembra.
O que eu posso fazer como indivíduo: acesse o site da Akatu e divulgue as ricas informações para seus amigos, colegas de trabalho, família. Hoje acredito mais na diminuição do consumo, ou melhor, no consumo racional, do que na reciclagem, por exemplo. Pequenas ações individuais podem fazer a diferença! E perca o medo da matemática: some o número de copinhos de café que você consome durante um ano para chegar à conclusão de que vale a pena manter, no escritório, a sua própria xícara de cerâmica...
Negócios Sustentáveis
Mel de abelhas sem ferrão, castanha da Amazônia (e não somente do Pará) e artesanato vindos diretamente do Norte foram trazidos a esse estande pela ong Amigos da Terra (http://www.amazonia.org.br/), responsável por um projeto que lembra um “balcão sebrae da floresta”.
São produtos especiais, que podem ser chamados de “sustentáveis” por três motivos: são “ambientalmente adequados” (produzidos levando-se em consideração o manejo florestal, por exemplo), socialmente justos (envolvem comunidades tradicionais) e economicamente viáveis. Certificadoras dão selos de qualidade sustentável a muitos desses produtos.
Comentei com Erinaldo Silva, um dos responsáveis pela organização, que esses produtos são caros para muitos consumidores. E ele explica que uma das lutas dos produtores da floresta é trabalhar a relação com intermediários. Por outro lado, concordo em valorizar muitos desses produtos, porque há o preço cultural e social por trás.
Se os italianos e os franceses colocam seus queijos e vinhos no pedestal, porque não podemos fazer o mesmo com a nossa castanha?
O que eu posso fazer como indivíduo: descubra as delícias da terrinha! Não só da Amazônia, mas de seu estado. Troque o foie grass no restaurante chique (uma iguaria cruel, mas deixo comentário sobre ela para outro dia) por produtos como o jambu, o tucupi. Preste atenção no que você consome: será que a empresa produtora consegue atingir um dos três níveis de sustentabilidade? Será que são socialmente justos? Ou ambientalmente corretos? E se você é empresário, cuide da cadeia que envolve desde os fornecedores.
Em tempo: o melhor do evento são as oficinas, como essa - onde a artista Lana Gonçalves dos Santos está montando, coletivamente, um grande painel de tecido com motivos sobre a sustentabilidade. Afinal, você também pode mudar o mundo através da arte. Ou pelo menos melhorar a si mesmo ao dar a oportunidade de relaxar e voltar a ser criança, fazendo brinquedos de sucata ou assistindo a deliciosas apresentações de teatro!
Comentários
Para quem não pode ir a exposição perfeitamente pode compreender o que se passa por lá e especialmente entender a necessidade cada vez maior de vivermos de modo sustentável.
Beijos!
Rogerio