Pular para o conteúdo principal

Pinguin: reflexo do que a garotada gosta na internet?

Passando férias forçadas com meus sobrinhos, percebo o quanto a internet já se incorporou nas famílias de classe média com computador em casa. Crianças urbanas, que normalmente não vão para a rua brincar, porque podem ser atropeladas ou sequestradas (sim, Campinas, no interior de SP, é assim).

Minha sobrinha Giovanna, de oito anos, pediu meu cartão de crédito semana passada para uma operação virtual. Queria R$ 8 para acessar uma área on line do site Club Penguin, maior sucesso entre suas amiguinhas. O papo é igual aqueles de quando éramos crianças: "mas todos os meus colegas têm, eu também quero ter".

O site é um jogo virtual cujos personagens são pinguins coloridos, que passeiam por vários cenários de neve. Os R$ 8 são para comprar acessórios indispensáveis a vida desses pinguins naquele microssomo social. Gasta-se moedas para comprar e alimentar mascotes; acessórios para os iglus (sim, os pinguins moram nessas casinhas de gelo), roupas coloridas e fantasias; fazer passeios, etc. Seus amigos do mundo real podem estar lá representados e dialogar em balõezinhos que representam os chats.

Giovanna acorda nessas férias e a primeira coisa que faz é ligar o micro e telefonas pras amiguinhas pedindo pra elas entrarem no site para brincarem virtualmente.

A garotada vive nesse joguinho virtual o que nós, adultos entediados, fazemos ao zapear aqueles canais de compras por impulso. Ou quando vamos a uma loja de decoração e compramos aquele vaso caro e que não serve para nada, só porque estava em oferta.

Só que a perversidade no caso das crianças é bem maior. Não temos tempo para brincar com elas, então, dá-lhe TV a cabo. Elas também zapeiam os canais infantis, e páram para prestar atenção em propagandas de brinquedo, de sites como esse Club Pinguin, de marcas de roupas... a mensagem é "comprar, comprar, comprar", "consumir, consumir, consumir", num ciclo que chamei de perverso porque a própria Disney (me desculpem, grifei mas não vou fazer propaganda gratuita pra esses caras), que tem um canal a cabo, o usa para fazer propaganda de seus produtos 24h por dia.
É isso que elas fazem nesse Club Pinguin: comprar, sem pestanejar ou pensar para que. Ou melhor: para ter um negócio melhor que o do amiguinho, mesmo que ele seja virtual.

Não gosto de me admitir careta e moralista acerca da televisão. Torço o nariz para aqueles casais que querem criar seus filhos numa redoma, longe da TV, impedindo seus pimpolhos de acessar qualquer coisa que não sejam aqueles desenhos por vezes monótonos dos canais culturais. Sou fã de desenhos animados, adoro o Bob Esponja e muitos desenhos da Disney-Pixar.

Mas essas férias serviram para ver o abuso da mídia em cima da garotada, e serve mais ainda para mostrar como quem é educador não consegue atingir essa turminha como a mídia consegue. Pinguins coloridos representando a nós mesmos, e se reunindo num mundo virtual, são exemplo da nossa atual incompetência para lidar com a infância televisiva e internética dentro da indústria.
Ah, mas eles têm dinheiro, a Disney, e todas essas indústrias da mídia... e nós, não podemos influenciá-la de jeito nenhum? Onde estão os projetos de educação ambiental e consumo consciente influenciando a mídia de verdade, não somente criticando-a? Então, dupla incompetência nossa...

Comentários

Josete disse…
Olá Débora!
Que saudade das suas reflexões!
Gostei, essa é muito boa... As crianças adoram jogos virtuais e tudo que vem desafiar sua imaginação! Certamente, se tivermos mais projetos que as desafiem de modo útil, seria excelente!
Beijão e feliz 2010!
Vítor Massao disse…
Muito bom o blog, parabéns!

Indico o documentário feito pelo Instituto Alana: "Criança, a alma do negócio", onde fala sobre a publicidade e consumo para crianças! baixa la! http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

Postagens mais visitadas deste blog

  Esta semana em Brasília ocorre a vigésima edição do ATL - Acampamento Terra Livre, organizado pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).  É a maior mobilização indígena do país e tem uma semana de muitas atividades, incluindo marchas, sessão solene no Congresso Nacional e apresentações culturais. Em 2023 foram seis mil indígenas de 180 etnias participando. Este ano, com certeza, haverá muito mais. Reinauguro este espaço de comunicação que não escrevo há tempos para prestigiar a ATL, vou acompanhar ao vivo no dia 23 de março, diretamente de Brasília, onde estou morando, em parceria com o site Vocativo.com , do premiado jornalista Fred Santana, de Manaus.  Vou acompanhar um trechinho da marcha que eles fazem até o congresso e assistir as duas sessões. Me acompanhem lá pelo Vocativo.com! 

Quadrinhos, um jeito divertido de ensinar meio ambiente

A tirinha acima faz parte do projeto Edu HQ , mantido pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, e mantém um acervo com centenas de quadrinhos e pequenas animações, muitas delas feitas por crianças. No item meio ambiente há 173 tirinhas como essa. Trabalhar com quadrinhos na sala de aula e no dia-a-dia é uma viagem... pois a partir da brincadeira é possível levantar vários pontos: refletir sobre o recurso de linguagem, o humor, a ironia, pesquisar o que o autor quis dizer, o que há por trás da história. Já para quem é "gente grande", quadrinhos são sempre um respiro no dia-a-dia... e também ajudam a pensar!

Parábola da escola animal

Texto inteligente do filósofo Osho, publicado no blog Palavras de Osho . É para se pensar... "Um amigo me enviou esta linda história. Eu gostaria que você a conhecesse; ela pode ajudar. A história se intitula "A Escola Animal". Um dia os animais se reuniram na floresta e decidiram criar uma escola.Havia um coelho, um pássaro, um esquilo, um peixe e uma enguia, e eles formaram uma Diretoria. O coelho insistiu na inclusão da corrida no currículo. O pássaro insistiu na inclusão do voo no currículo. O peixe insistiu na inclusão da natação no currículo. E o esquilo disse que a subida perpendicular em árvores era absolutamente necessária ao currículo. Eles juntaram todas essas coisas e escreveram um roteiro do currículo. Então insistiram em que todos os animais aprendessem todas as matérias. O coelho, embora tirasse um "A" em corrida, teve uma enorme dificuldade em subida perpendicular em árvores. Ele sempre caía de costas. Logo ele teve um tipo de d...